Sexta-feira, 28 de Maio de 2010

Discursos Sobre a Cidade - 100 - Por Gil Santos

 

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CASSAPOS


Manuel Fagundes Arrebita, era um preguiceiro. Nunca fez nada que jeito tivesse do que exigisse puxar pelo lombo bem entendido, porque no negócio era um portento. Nasceu na rua Verde, sabe Deus quando. Órfão temporão de pai, sua mãe consumiu-se ainda nova por mor de o criar desparasitado e bem nutrido. Finou-se pouco antes de o ver nas sortes, altura tida como a do verdadeiro desaninhar.


Até àquela altura polia esquinas, o mesmo é dizer não fazia a ponta de um corno. Parava pelos Quadradinhos, seu escritório, sempre atento às conversas dos engraxadores e aos negócios dos aldeãos que nos dias de feira faziam do Arrabalde o ponto de encontro. Mestre da manigância fazia da rua escola e mais tarde da tropa universidade.


Pelos dezanove anos assentou praça no Quartel de Infantaria Dezanove, onde refinou a arte de prestidigitador no contacto directo com a corja do ardil. A tropa manda desenrascar e ele rapidamente se desenrascou.


Quando um mancebo assentava praça, era-lhe distribuído, para além do fardamento, uma panóplia de outros artefactos que ficavam à sua responsabilidade por todo o tempo que se encontrasse a cumprir o serviço militar. Tinha de os apresentar no dia do espólio, isto é de passagem à disponibilidade ou à peluda como se dizia na gíria da caserna. Se esses equipamentos não fossem apresentados, havia que os pagar e a bom preço. Ora ninguém estava para aí virado, pois o dinheiro era ainda mais escasso do que é hoje. Por isso, sempre que alguma coisa desaparecia, era costume fazer-se uma de duas coisas: ou se mantinha o bico calado e na primeira oportunidade subtraía-se a outro, que provavelmente já a havia fanado a um outro e assim sucessivamente, ou então comprava-se no mercado negro, de preferência por uma bagatela.


O Arrebita não precisou de muito tempo para se enfarinhar no negócio. Prestes se transformou num autêntico padrinho napolitano. À sua conta tinha para mais de uma dezena de larápios, a quem comprava a mercadoria por tuta e meia e que depois metia no armazém-loja que tinha nos baixos de sua casa. Este estabelecimento só abria as portas a gente de confiança. Quem roubava sabia a quem vender e quem precisava a quem comprar. No seu supermercado havia de tudo: fardas completas de qualquer número, bonés e botas, sapatilhas, cintos e cartucheiras, balas granadas e cantis, baionetas, marmitas, garfos e colheres, havia inclusivamente peças avulsas de armas como culatras, canos e coronhas nomeadamente da conhecida Mauser Vergueiro. Não faltava nadinha. Se no momento não houvesse em stock, o cliente que ficasse descansado, dentro de um ou dois dias seria servido. O negócio era próspero enquanto andou na tropa. Quando passou à peluda enfraqueceu por ausência do cheiro da caserna. Mas ainda assim dava para viver e isso é que interessava.


Arrebita, era uma verdadeira toupeira do mercado subterrâneo, um dinossauro da compra e venda de material de guerra. Dizia-se que chegavam a vir do Porto à procura da sua mercadoria. Vivia bem o lapantim e sem fazer nada. Lábia não lhe faltava e se fosse preciso trabalhar noutro ramo, por exemplo armar estrangeirinhas para ludibriar bagalhuços aldeãos, não se ensaiava nada.


Por falar em conto do vigário lembrei-me agora de uma que lhes conto.

 

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Estando um dia no Arrabalde, Manuel ouviu dizer que o governo tinha contratado uma série de engenheiros para que fossem pelas aldeias do concelho actualizar as medições dos prédios rústicos para rectificação das matrizes prediais e respectiva actualização das contribuições, décimas, como à época se chamavam.


Viu a dele boa: iria ser engenheiro das medições!


Reuniu com o sócio Necrotério, antigo camarada de caserna, seu braço direito e juntos montaram a estrangeirinha:


Primeiro era preciso vestirem-se como verdadeiros engenheiros.


Depois afinar a linguagem técnica.


Por fim arrear as montadas e cavalgar por essas aldeias além.


Assim foi.


Foram ao Sarmento e botaram os metros de tecido necessários para dois fatos que o alfaiate Queirós haveria de fazer à medida. Camisa branca e gravata a dizer com a fazenda. Depois às Curadoras: botas cardadas e polainicos. No chapeleiro da rua Direita mercaram finos chapéus de felpo.


A seguir ensaiaram o paleio técnico, o que não foi nada difícil por serem especialista do endrominanço.


Por fim arreios a preceito para os cavalos, comprados nas lojas da especialidade à muralha do Baluarte do Cavaleiro.


Combinaram nomes falsos, engenheiro Teodoro para um e Torcato para outro.


No dia combinado abalaram serra arriba.


Iniciaram a saga pelo Barroso. Pedrário, primeira aldeia para experimentar. Correu de feição, continuaram, apurando cada vez mais o guisado.


E como faziam?


Chegavam ao lugar e procuravam o Regedor por mor de saber quem eram os grandes proprietários e ainda para dar peso institucional à coisa. Depois instalavam-se em casa de um dos mais ricos da aldeia. Armados de pasta, bloco de notas e teodolito, iam por essas courelas fora, acompanhados do proprietário e vai de fingir que mediam, que escrevinhavam e que tiravam os azimutes. Interim iam dialogando sobre a metragem e o imposto a que correspondia. Criavam assim o ambiente favorável para que os lavradores percebessem que pagariam grossa maquia de décima. Claro… a não ser que estivessem dispostos a compor a coisa com uns presuntos, uns salpicões e uma notitas de cem. A estratégia resultava, porque uma coisa era presentear uma única vez os engenheiros e outra a vida inteira o Estado!


O negócio corria de vento em popa. Os melros engordavam a olhos vistos e os proprietários contentinhos porque nalguns casos ainda iam pagar menos do que o que desembolsaram os seus avós.


Negócio perfeito.


Acabando numa aldeia partiam para outra levando o alforge repleto e a carteira anafada.


A coisa foi andando.


Quando viram que a teta barrosã tendia a secar e até mesmo para não dar muito nas vistas, viraram-se para o Planalto do Brunheiro.

 

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Claro está que naquela época as notícias corriam à velocidade do caracol. Contudo, mesmo assim, feira a feira não deixavam de se actualizar as novidades. Evidentemente que quem tinha sido favorecido pelas medições e eram quase todos os que tivessem por onde pagar, calavam-se como ratos. Porém, um ou outro lá se ia descaindo com os amigos e a notícia foi-se espalhando.


Ao Ti Moreiras do Carregal, pequeno proprietário, conhecedor de meio mundo, batido pelas balas do boche na guerra dos dezassete e curtido pela miséria dos campos de concentração alemães, chegou a notícia pela boca de um camarada barrosão que era um grande proprietário rural de Vilar de Perdizes e o acompanhou na Saga de Chaves a Copenhaga, nessa maldita Grande Guerra.


— Ó Moreiras, sabes que um destes dias, apareceram-me lá por Vilar dois engenheiros das medições! Olha que engrampei bem os filhos da curta! Mamaram-me umas chouricitas e uns presuntos, mas consegui que baixassem para metade as áreas das minhas poulas. Estou que vou pagar ainda menos de décima do que o que pagava inté aqui.


— Não me digas Aniceto! À minha terra ainda não chegaram. Conta-me lá os pormenores para eu fazer o mesmo.


Contou tudo timtim por timtim.

 

Passado uns tempos e umas feiras mais, já se comentava de que tinha havido tramóia com os engenheiros no Barroso. É que parece que apareceram por lá outros, se calha os verdadeiros e a coisa estava a desmascarar-se.


Entretanto, o Arrebita e o companheiro, continuavam na fresca ribeira a meter para o bucho e para o bornal, agora em terras do Planalto. Todavia, quando chegaram ao Carregal, terra do Ti Moreiras, ele já estava precavido e fez-se de mula!


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Recebeu o Regedor muito bem, aceitou que as companhias se instalassem lá em casa durante os dias que fossem precisos para o trabalho das medições.


O esquema era o mesmo de sempre.


O casal do Ti Moreiras ficou para último.


Daí a dois dias já estavam arrecadados na adega presuntos e cambalhotas de salpicões e linguiças, pagas de favores.


Estiveram por lá quase uma semana.


Os dias passavam-nos nas terras, os serões a ouvir as histórias de guerra que o anfitrião fazia questão de contar na primeiríssima pessoa.

Na última noite o Ti Moreiras e uns quantos do lugar, tinham uma surpresa reservada para os artistas.


Aquela noite estava fria como navalha de sincelo e negra como breu. Era Fevereiro, cerca do Entrudo e pelo Planalto soprava um vento galelo danado. Levava orelhas, barba e o mais que estivesse ao relento. Fosca-se!


Ora, depois de farta ceia de couve penca, feijão vermelho e pernil fumado, fizeram como nos outros dias, largo serão. Só que desta vez no lugar das histórias havia chincalhão[i] e cachaça para aquecer. Já tudo meio grogue, o Ti Moreiras sai-se com esta:

 

— Ó rapazes e se fossemos aos cassapos? Deve ser novidade aqui para os nossos amigos e a noite está mesmo à feição!


— Boa ideia — disseram os amigos.


Mesmo os falsos engenheiros ficaram entusiasmados. Só não sabiam o que eram cassapos.


— É surpresa, vocês vão ver. Haveremos de fazer uma tainada do catano amanhã!


— Assim seja — concordaram os engenheiros.


Foram então combinadas e distribuídas as tarefas. O Ti António Moreiras e os vizinhos, conhecedores do terreno e dos carreirões que os cassapos trilhavam para se alimentarem à noite, ficaram com a missão de os tocar até às embocaduras dos sacos, aí os engenheiros, em silêncio, colocar-se-iam cada um com seu saco de serapilheira bem aberto, para que os bichos acossados entrassem.

 

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— Não tem nada que saber, os senhores engenheiros vão ficar, um na Ladeira junto ao toco das raposas e outro nos Cáximos, junto à poça, de saco aberto no meio do carreirão, por onde eles hão-de passar. Como é de noite e eles vêem mal entrarão nos sacos. Têm é de ficar caladinhos para que não se assustem e tornem para trás. Nós vamos à volta e tocamo-los até aos senhores. Logo que entrem, fazem o favor de fechar bem o saco e aguardarem-nos para que lhe tiremos o pio.


— E os bichos mordem? — perguntaram em uníssono os engenheiros.


— Qual quê, são mansos como cordeiros, vão é ser mordidos por nós na janta de amanhã. Vamos?


Lá foram serra fora. Os aldeãos acautelados de samarra, boina galela e varapau para tocar os cassapos, os engenheiros, corpo bem-feito e saco de serapilheira às costas.


O senhor engenheiro Teodoro ficou no cimo do Belão, na Ladeira entregue a um carreirão onde corria um briol de tralhar a medula dos ossos, o Torcato ao lado da poça do Cáximos, já em carambelo pelo sereno da noite.


Puseram-nos em posição, aconselharam silêncio e foram tocar os cassapos, evidentemente para as mantas quentinhas e fofas de suas camas.


Os engenheiros estiveram à espera até de madrugada. Enregelados!


Os cassapos não apareceram.


Quando se deram pela tramóia, sebo nas canelas e a butes para Chaves!


Largaram montadas, salpicões, linguiças e presuntos.


Não deixaram o próprio canastro porque não foram audazes ao ponto de reclamar os pertences!..


Até hoje, nunca mais ninguém os viu pelo Planalto.



Benditos sejam os cassapos e mais quem nos inventou!





[i] Jogo de batota com cartas.

Gil Santos

 

 

 

 


publicado por Fer.Ribeiro às 12:00
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Sexta-feira, 5 de Fevereiro de 2010

Discursos Sobre a Cidade - 84 - Por Gil Santos

 

 

 

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Cantigas ao Desafio

 

As noites de Inverno em Trás-os-Montes são muito mais longas do que em qualquer outro sítio. Logo que o sol se esconde, começa a gear e ainda a hora da ceia vem longe já o carambelo enche de diamantes os galhos das árvores e os beirais dos telhados. Uma melancolia gelada acompanha a cria que recolhe às cortes e o homem que se escapa, logo que pode, para o conforto do tição. No Inverno come-se do que o Outono pôs no celeiro e espera-se, na calma das horas longas, que amanheça mais favorável do que anoiteceu. O tempo transmontano corre pachorrento, mesmo hoje, apesar de a electricidade encher de luz os mais recônditos lugares, tornando as noites aparentemente mais curtas.

 

Há anos, não muitos, quando as noites gélidas eram alumiadas pelas candeias de petróleo, os homens consumiam as horas do serão tagarelando à volta de um canhoto de carvalho que ardia tranquilamente na lareira dos casebres. Aproveitavam para botar contas à vida, para lamentar a má sorte ou para contar histórias de mouras encantadas ou de lobisomens, muito gastas e com finais quase sempre felizes. Outras vezes juntavam-se na casa do forno, se o nevão o permitisse, consumindo lugares comuns e o mais das vezes ausência de novidades. Uma vida triste!...

 

Na casa da Ti Emília Paparrotas tudo se passava nesta calma de sempre. O Ti Adriano era o homem lá de casa ia para vinte anos. Dedicava a sua vida principalmente à agricultura. Porém, tinha jeito para a carpintaria e sempre que podia não renegava a uns magros cobres nesta arte. Tiveram filhos já muito tarde. A Ti Emília até pensava que nunca os teria não fora ter convencido o marido a acompanhá-la à Misarela na foz do Regavão. Passaram lá uma noite fria, mas valeu a pena. Engravidou de gémeos aos quarenta anos. O parto não foi muito normal e se não fosse a Tia Cândida ajudar a dilatar as carnes, já ressequidas, da parideira, os gémeos não teriam vencido. Mas venceram e deram dois rapagões de respeito: O Jorge e o Marcelino. O Jorge aos doze anos já se gabava de fazer a barba, embora reconhecesse que raramente precisava de afiar a navalha! O Marcelino começava já a pintar!

 

Não sendo uma família rica e nem tão pouco remediada, também não se podia dizer que fosse pobre. Vivia do que a terra dava e, não sendo muito, sempre se ajeitava a vidinha com a actividade da carpintaria que ajudava a controlar os calotes na mercearia do Antero.

 

Os rapazes eram dados às artes musicais. De latas faziam bombos, da casca das varas de castanheiro flautas, do colmo tenro do centeio gaitas, das bancas de tripé concertinas e passavam as noites a fingir grandes concertos. Umas vezes cantavam ao desfio com improvisos muito bem conseguidos, para gáudio da família, outras imitavam os cantores da moda dos anos sessenta, que ouviam na telefonia da taberna.

 

Era uma alegria na casa da Ti Adosinda!

 

Uma noite de inspiração, os rapazes combinaram, de aposta, uma desgarrada. Perderia o que primeiro deixasse de rimar. Assim estava combinado e assim se fez.

 

Quadra dum lado, resposta do outro e a coisa foi andando. Por vezes a rima era tão pândega que o Ti Adriano soltava gargalhadas estridentes entre dois golos de maduro tinto que aquecia ao borralho na pitxorra de barro de Nantes. Às tantas, o Marcelino, em resposta a um atrevimento do gémeo, botou a seguinte rima:

 

Boa noite meus senhores

No fundo d’um alguidar meu

O meu pai é serrador

Serrou os cornos ao teu!

 

Mal havia acabado e já a Ti Paparrotas tinha puxado a culatra atrás e espetado um tal bofetão nos focinhos do cantador que o fez afocinhar na cinza da lareira!

 

O rapaz ficou tão atromelizado com o sucedido que precisou de muitos anos para perceber o que justificara aquela tão inusitada atitude de sua mãe!

 

Uma coisa é certa, nunca mais, a partir daí, houve naquela casa cantigas ao desafio. Pudera, é que a Ti Emília tinha um brio incomensurável na sua fidelidade conjugal!...

 

O Ti Adriano não cabia em si de contentamento por ter sido simultaneamente considerado o serrador e a vítima!

 

Também ele precisou de tempo para perceber a atitude da mulher!...

 

 

Gil Santos

In “Ecos do Planalto – estórias” - adaptado

 

 

 


publicado por Fer.Ribeiro às 00:12
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Sexta-feira, 1 de Janeiro de 2010

Discursos Sobre a Cidade - 79

 

 

O ESPANTALHO

 

     O Ti Balele, de nome próprio Manuel Teixeira, era um homem levado do catrino(1) para a paródia. Filho primogénito de uma família abastada da Veiga e com pouco para fazer na terra, dada a criadagem da casa, dedicava o mais do seu tempo às coisas do intelecto, cogitando refinadas diabruras ou passeando o non far niente(2) pelos recantos idílicos da cidade. Dono e senhor de uma capacidade de imaginação notável, dominava as mais invulgares habilidades: tocava um sem número de instrumentos musicais apenas de ouvido; consertava rádios e mais tarde até as televisões de válvulas; fogões de gás; motores de rega e de automóvel e inventava estranhos arcanhos(3) para os mais inusitadas propósitos! Uma inteligência prodigiosa e rara. Como ele só conheci um tio-avô, o Júlio das Malhadeiras dos Moreiras da Amoinha Nova.

 

     O Balele vestia como um pimpão: chapéu às três pancadas, brilhantina num cabelo às ondas penteado para trás, calça de risca ao fundo tocando levemente num sapato de salto médio com protectores para que batesse o ritmo gingão das passadas nas pedras da calçada, camisa de cashmira(4) de um branco imaculado com colarinhos à teta de cabra, engomados, caindo sobre as dobras do casaco cintado. Aberta até ao peito, a camisa, deixava divisar os pêlos do peito, que quase não tinha. No anelar da mão direita exibia uma chapola(5) com um grande rubi e no da esquerda, uma outra com a bandeira nacional. Quando se pavoneava pela cidade nada ficava a dever ao mais refinado travolta. Nesta figura e a dar no olho, passeava-se de café em café, galando as moças à ganância. Vazava-as com um olhar ladino, despojando-as das sete fraldas e sonhando navegar, perdido, na alva espuma dos seus corpos brandos. Um autêntico marialva!...

 

     Não havia festa nos arredores da cidade em que não estivesse com o seu Volkswagen carocha carregado de amigos. E, quando por Setembro se fazia o arraial de Valpaços, um dos mais afamados da região, carregava a caixa aberta da camioneta Bedford de rapazes e moçoilas e lá subia a serra de S. Lourenço a passo de caracol até que o planalto permitisse engrenar a prise(6) e seguir mais ligeiro. Chegando a Valpaços descarregava num qualquer souto, comprava cinco ou seis melões casca de carvalho e lerpava-os(7) com os amigos ali mesmo sobre qualquer penedo onde estacionasse. Bebia uns canecos do tinto de 15 graus de Santa Maria de Emeres e como um tego bailava, bailava, umas vezes no ringue – pago – outras no terreiro – livre. Às tantas da madrugada admirava o fogo de artifício que era famoso e quando a manhã mostrasse a fuça regressava, mais morto do que vivo. Por Deus querer nunca se esbandalhou(8) a descer, desengatado, o miradouro de S. Lourenço. É que afinal era mais o vinho e o cansaço a guiar do que a própria razão!

 

     Casou, já quarentão, em Vilas Boas. Porém, tanto escolheu, tanto escolheu, que pouco acertou! Calhou-lhe um xaragão mal mexido(9) que pouco tempo o fez feliz. Meia dúzia de anos bastaram para que apartassem fazenda(10) e fosse cada um curtir a solidão para sua banda. Assim se mantiveram até que a morte os ausentou das tropelias desta vida.

 

     Por falar em tropelias partilhemos então algumas daquelas que o fizeram notado.

 

     Andava há tempos com a cisma de que as vasilhas tradicionais de castanho, tairradas(11) lhe azedavam o vinho. Durante anos reparou que a pinga, a partir de meia vasilha avinagrava, apesar de estrafegada no seu tempo. Resolveu então experimentar envasilhar o pitróil(12) numa cuba de cimento. Achava ele que haveria de ficar mais fresco e durar mais tempo sem se estragar. Botou mãos à obra. Passado um mês tinha a dita cuba construída e com capacidade para cinco pipas. Uma obra admirável, não pelo tamanho mas pela novidade que constituía à época. Na primeira colheita encheu-a com o mosto das uvas de Alvites e esperou que o vinho desse de si. Diz o adágio que “pelo S. Martinho se vá à adega e se prove o vinho”. Meu dito, meu feito. Provou-o e como de facto estava uma pinga do caraito(13): cristalina à luz, encorpada, sabor a fruta silvestre!.. É claro que tinha de ser da qualidade da vasilha porque, como noutros anos, também tinha afogado no vinho um pedaço de carne gorda da pá e nem por isso o tintol ficara tão bom. Ao domingo era um corridinho de provadores adega adentro e qualquer deles, por muito biqueiro que fosse, não deixava de, com o órgão do paladar, colorir o ambiente dos apreciadores profissionais com aquele estalido da praxe no fim de um bom copo de tinto!.. Porém, aquilo estava a tornar-se insuportável. Não faltava gente a rondar o caminho para molhar o bico e o medidor exterior do nível da cuba ia assinalando descidas acentuadas. Havia de se fazer qualquer coisa porque por este andar o tintol não teria tempo para azedar e lá se ia a experiência para ver o que aconteceria ao vinho quando a vasilha estivesse menos de meada. Não esteve com meias medidas: fechou-se na adega e com tinta e pincel pintou na frontaria da dita cuba um tufo de cachos vigorosos e uma frase em letras pouco menos do que garrafais: “Beba, não se faça burro! Mas pouco!...” É claro que para os mais esclarecidos a mensagem passou, o pior é que muitos dos seus amigos não sabiam ler nem escrever!... O vinho depois do escrito continuou a mingar mas agora mais d’amodinho(14), contudo, não ao ponto de, pelo menos naquele ano, conseguir verificar se a cuba evitaria que o néctar entoldasse!...

 

     De outra vez meteu-se-lhe na cabeça esculpir um taludo(15) tronco de carvalho em forma de Deus Baco, para decoração da adega. Porém, fê-lo tão abantesma que quando o meteu junto dos tonéis batia com a cabeça nas traves de castanho que seguravam o sobrado, não rimando, para além do mais, com a decoração da adega. À falta de melhor sítio para o colocar, pregou com ele no telhado fronteiro de sua casa, em cima de um pedestal de cimento como se de uma estátua se tratasse. Colocou-lhe entre os braços semiabertos um arco com a seguinte frase: “diz lá quem te bateu?” Nunca ninguém percebeu o que ele quereria com este dezer, nem ele alguma vez o explicou. Talvez o propósito estivesse muito avançado para o entendimento das mentes daquela época!.... O animal era de tal forma feio que espantava e intrigava quem passava no caminho e o admirava. Inclusivamente as mães, para obrigar os filhos a comer o caldo, ameaçavam-nos com o “quem te bateu” e a coisa funcionava!... Ao menos isso!

 

     Noutra ocasião pegou num volumoso livro que andava lá por casa, talvez uma velha Bíblia Sagrada e com a paciência do chinês recortou-lhe as folhas interiores até conseguir espaço para introduzir um arcanho que ele próprio fabricou e que se destinava a prendar a curiosidade de quem o abrisse com um piparote(16) eléctrico do catano! Encapou-o cuidadosamente com um colorido papel de estanho, matéria condutora da energia eléctrica, decorando apelativamente a capa com umas imagens de mulheres seminuas como convinha para atrair atenções. A primeira vez que o usou foi no café Brasil onde havia uns bilhares muito usados pela juventude. Um dia chegou ao estabelecimento um pouco depois do repasto, não estando ainda ninguém por lá a dar ao taco(17). Cuidadosamente colocou o livro sobre o bilhar, armou a esparrela(18) e foi tomar o seu café. Não demorou mais de meia dúzia de minutos sem que dois pimpões, matarruanos(19) que vieram feirar, entrassem filando de imediato as imagens apelativas da capa do livro. Cegaram-se como os pinchos(20) quando vêem o grilo na pescoceira.

 

     – Ele que caraito é isto? – botava o mais afoito!

 

     Num bês, é um libro de gaijas! – constatava o outro.

 

     De gaijas? Bem mou finto!...

 

     Astrebeibos a abririo e vereides(21) a Greta Garbo toda nuzinha – disse o Balele do balcão, para lhes aguçar ainda mais o apetite!...

 

     Atão num astrebemos! – responderam corajosos.

 

     Um deles botou-lhe as unhas e mal o abriu um pouco apenas, o arcanho deu de si e aí vai aço!...

 

     Puta que pariu!.... – berrou surpreendida a vítima largando o livro que, às cambalhotas pelo ar, se esbandalhou escontra a parede fronteira!...

 

     - Arra foda-se que vocemecê agora é que me fodeu! Vá lá p’ro caralho que o recontrafoda, vocemecê mais o caralho do livro, e arrousse-se(22) daqui para casa do caralho entes que le foda as bentas!...

 

     Quem assistiu ao espectáculo riu a bandeiras despregadas. É que galhofas daquelas só na Lapa, uma vez por ano, com as palhaçadas do Cardinalli.

 

     De outra vez comprou, creio que a uns ciganos que faziam negócio com materiais vindos de Andorra, um auto-rádio que montou no seu carocha. Um cantante(23) que fazia as delícias e a inveja dos seus amigos. Tocava os fados da Amália os rocks do Travolta ou as baladas de Nelson Ned, Mari Sol e Roberto Carlos com tanta limpidez que chegava a fazer arrepiar quem as ouvia. Aliás, moçoila que aceitasse ouvir um destes temas só conseguia sair do carro com duas beijocas nas trombas…e se não fosse mais! Mas o rádio tinha um problema que afligia quantos o admiravam: não tinha marca! Cada vez que algum amigo ou amiga admirava o aparelho e o seu desempenho, não deixava de lhe notar o incontornável defeito de ausência de marca. Poderia lá ser, um rádio tão bom e sem marca!... O Balale tanto se encheu daquilo que um dia sentou-se na sua banca de trabalho e desenhou, numa placa de alumínio fino, a marca do rádio, cujas letras minúsculas recortou com uma minúcia de cirurgião. Depois de pronto o trabalho não se distinguia do feito na fábrica. Colou com cuidado e no lugar aprazado a respectiva marca: MERDEX.

 

     Daí por diante nunca mais ninguém ousou sequer reparar que aquele rádio não tinha marca!... Problema resolvido!

    

     Certa ocasião constou que um dos criados da casa tinha morrido no Tâmega ali para os lados da Galinheira, quando numa sesta(24) se banhava nas suas águas límpidas. Dizia-se que o corpo não teria aparecido por ter sido engolido num dos muitos redemoinhos que por ali se dizia haver. De facto e até hoje o desgraçado não deu à costa. Porém, isso não obstou a que se tentasse levar por diante um enterro digno. O Balele, numa tarde de cegada na Veiga fez constar, entre o rancho de trabalhadores, que o corpo tinha aparecido e que estava em câmara ardente no salão grande da casa, pelo que no regresso do trabalho todos poderiam participar no respectivo velório, rezando um terço por sua alma. Teve a tarde toda para preparar a cena como lhe convinha. Contratou um amigo armador que com ele preparou a sala com todos os requintes que se exigiam dum mortório a sério. Não faltava a urna, os candelabros de azeite que ardiam mortiços criando um ambiente de penumbra sobre um caixão roxo que repousava em dois suportes cromados. Uma grande cruz sobre a cabeceira dava o toque final. Na urna repousava então o volume do corpo do infeliz completamente coberto por um véu preto opaco como convinha para que não se visse o estado de putrefacção que já mostrava. É evidente que do volume do corpo não tinha senão um fato velho preenchido com feno e uma cara deslavada fabricada de pasta de jornal, mas tão bem feita que ao longe e na penumbra, imitava na perfeição o defunto. Quando pela tardinha as pessoas iam chegando do campo passavam por lá, botavam água benta e rezavam um padre-nosso pela alma do infeliz. À noite rezar-se-ia o terço como era costume. Contratou a tia Cândida para debitar as Avé Marias. Antes porém fez passar uma corda fina pelo estrebão(25) da casa e que ligava o pescoço do defunto à uma sala contígua. A corda estava perfeitamente camuflada pelas colchas roxas que adornavam a cabeceira do morto. Acontecia que quando se puxasse na outra sala isso faria com que o defunto se levantasse precipitadamente e com grande estardalhaço porque às pernas do espantalho prendeu uma série de campainhas dos bois. A noite foi chegando e com ela os muito afanados fiéis. Tudo estava pronto e a Tia Cândida deu início às ladainhas com a sala quase repleta. O sobrado de castanho rangia com o peso. Botou Avé Marias e Pai Nossos sem conta e quando tudo já dormitava no rame rame das rezas, o Balele, sorrateiro, esgueirou-se para a sala contígua. Quando lhe pareceu, deu um valente puxão à corda fazendo saltar o morto que aos toques endiabrados dos guizos ficou pendurado, à laia de enforcado, na trave da sala. Meu amigo, o pânico foi de tal ordem que o pessoal que não desmaiou precipitou-se para a porta estreita para dar de frosques(26). Porém, o peso inusitado de tanta gente aglomerada sobre os caibros que sustentavam o sobrado junto à porta de saída fizeram-nos ceder e foi tudo parar à loja dos recos(27), numa escuridão total. O morto baloiçando na trava continuava a tilintar campainhas, os homens e as mulheres, num amálgama, chafurdavam no esterco da loja. Os desgraçados dos recos a grunhir assustados como diabos, faziam da cena um autêntico Inferno de Dante. Os que puderam escapar-se pela porta da corte para o pátio, largaram rua acima para não mais pararem. Os que desmaiaram, iam acordando aos poucos e fugindo quanto podiam, os que ficaram feridos com o desastre gritavam como almas penadas cuidando estarem já a caminho das parafundas(28) do inferno!

     Quando tudo se esclareceu o Balele teve de fugir para a Póvoa de Varzim até que tudo estivesse esquecido. Não demorou muito tempo que pudesse regressar na paz do senhor porque apesar de tudo já ninguém deixava de se rir com o arrojo daquele alma do diabo!

 

Gil Santos

 

1 - O diabo em figura de gente

2 - Não fazer nada

3 - Utensílios refinados

4 - Tecido fino

5 - Anel muito grande

6 - Velocidade mais alta da caixa de velocidades

7 - Comia-os

8 - Se desfez

9 - Uma mulher matrona

10 - Se separassem

11 - Mal limpas das borras

12 - Petróleo - vinho

13 - De estalo

14 – Devagarinho

15 - Grande e grosso

16 - Um coice

17 - A jogar

18 - Ratoeira

19 - Parolos

20 - Espécie de pássaro

21 - Atrevei-vos a abri-lo e vereis

22 - Desande

23 - Rádio

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Quarta-feira, 18 de Novembro de 2009

Discursos Sobre a cidade - 74


Discursos Sobre a cidade - 74, originally uploaded by frproart.
 

BOTA-LE BINHO

 

 

Conheci o Ti Chico Milheiro já ancião. Nas torreiras de Agosto juntava a rapaziada nova à sombra do negrilho do Prado e, sentado na massadoura, entretinha os seus já longos anos com as reacções às curiosas histórias de vida que os ouvintes sorviam como água quando se tem sede. Ouvi-lhe muitas! Esqueci-as quase todas. Retenho apenas esta que vos conto:

O Chico Milheiro nasceu pobre em Milhais, lá para os lados de Mirandela. Órfão temporão de pai e mãe, cedo se fez à vida, na qualidade de criado de servir. Tirando a fartura de bogas do Rabaçal, que pescava na desova, no tempo das formigas fazerem carreira — como ele dizia — e dos raros coelhos e lebres que caçava nos laços que com mestria sabia armar, passava fome de rato. Serviu muitos patrões, levou muitos pontapés no cu, trabalhou de sol a sol e comendo o pão que o diabo amassou aprendeu a ler nas entrelinhas da agrura da vida o que mais lhe convinha. Juntava à sapiência da coruja a manha da raposa! E, desta forma, tão cedo se fez à vida de serviçal como a deixou. Não teria um quarto de século quando, proprietário de uma leira de couves, passou a servir-se a si mesmo. Botou umas colmeias, únicas nas redondezas, e quase só com elas se sustentava no Carregal, onde se fixou. Ao tempo, o mel era remédio para quase todos os males. Vendia-se bem para qualquer mezinha. Contudo, continuava pobre o Chico Milheiro. Pobre mas orgulhosamente dono de si!

 

Fez-se à vida pelos dezasseis anos, idade em que a força de crescer tonifica os músculos e dá ao corpo a forma masculina do homem grande. Procurou trabalho por terras de Valpaços. Encontrou-o em Brunhais, na casa de um lavrador rico mas usurário. A produção de vinho era a sua principal actividade. Durante todo o ano, o Chico, não trabalhando na vinha, trabalhava no bacelo. Porém, aguentou-se pouco tempo neste patrão. O homem estava sempre com pressa de o fazer trabalhar e mesmo nas sagradas horas do repasto pressionava o desgraçado. Um belo dia reparou que o Chico soprava ao caldo de vagens chitcharras que fumegava numa malga à sua frente.

─ Despacha-te rapaz, temos a vinha da Silva para satchar!

─ Está quente o caldo, patrão!

─ Oh homem, bota-lhe água.

Água?!!!... Este patrão não me serve! E tão depressa o pensou como rumou ao mundo à procura de melhores promessas.

Deu com patrão novo no Planalto, lá para os lados de Carvela. Um homem austero, que vivia da batata e do centeio. Sofria, porém, da mesma doença do anterior: o tempo era sempre curto para o trabalho. Um belo dia, ainda no primeiro semestre do emprego, o Chico defrontava-se com uma bela malga de caldo de lombarda, reluzente e fumegante. Fora lançada directamente do pote, que à força do braseiro apurava num borbulhar de cachoeira nervosa. O Chico bem lhe soprava mas o raio do caldo não havia maneira de arrefecer.

─ Despacha-te, rapaz! Temos a leira dos Bagueiros para agradar nesta tarde. Uma campina!...

─ O caldo está quente patrão!

─ Oh Chico, bota-lhe pão!

Pão?!!!... Ora essa, pão tenho-o eu à farta à minha frente, cogitou o criado em jeitos de despedida. Não demorou um mês que pusesse a trouxa às costas e procurasse novo destino.

 

Rumou desta feita ao Carregal onde encontrou trabalho na casa do Ti Moreiras. Um lavrador remediado que repartia os seus dias entre o trabalho árduo da terra magra que mal dava para sobreviver e o relato apaixonado das peripécias da primeira Grande Guerra, onde fora combatente e prisioneiro. Mas também o Ti Moreiras gostava pouco de perder tempo, nomeadamente a comer. Um dia de malhada, pelo fim dum Julho de canícula, criado e patrão sentaram-se à mesma mesa para repor as forças num lauto almoço de couve, toucinho e feijão vermelho. Encheram as ventas! No fim, como era hábito em Trás-os-Montes, veio a malga de caldo de baijes. Fervente! O Chico bufava-lhe, desta vez não só para o arrefecer mas também e sobretudo para ver no que é que aquilo dava.

─ Apressa-te, home! A malhadeira reclama-nos. Temos de acabar a malhada hoje.

─ O caldo está quente patrão!

─ Bota-lhe binho, catano!

Ah grande patrão, este é que me serve!!!...

E, desta feita, laborou em casa do Ti Moreiras até desposar a Rosa Milheira. Uma rapariga simples, mas trabalhadeira, filha da Ti Carminda da Rua, uma cabaneira pobre.

 

O empenho do Chico Milheiro foi tal que o patrão Moreiras aceitou apadrinhar o seu casamento. Doou-lhe uma pequena horta contígua ao casebre onde o Chico morava. Não demorou que se despedisse. A Rosa e o Chico trabalhavam à jeira. O soldo, a hortita e as colmeias sempre davam para o consumo e, sequer ao menos, eram homens livres!

 

Tenho saudades das histórias do Ti Milheiro. Alimentou muita da imaginação que me havia de fazer voar por sítios onde nunca fui capaz de chegar sozinho.

Obrigado Francisco Milheiro também por reconheceres no Ti Moreiras as qualidade do homem bom que ele sempre foi!

Gil Santos

In Ecos do Planalto - estórias

 


publicado por Fer.Ribeiro às 23:54
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